Artigo escrito por Lucas Gobo, Engenheiro Mecânico especialista em Melhoria Contínua.
A pandemia da Covid-19 levou o mercado aos extremos da loucura. Por um lado, previsões pessimistas para a comercialização de produtos e serviços, com pequenas e médias empresas enfrentando dificuldades para manter a operação. Já, por outro lado, demandas crescentes a patamares nunca antes vistos: novas oportunidades de negócios, empreendimentos e previsões de demanda.
Quando olhamos para a toda a cadeia, enxergamos um excesso de disponibilidade de alguns produtos, serviços e a carência de outros pelo aumento repentino de algumas necessidades.
No melhor estilo “o gerente está louco!” o mercado de consumo mudou de uma forma que não poderia ter sido prevista ou planejada para o próximo período. Perceba que, quando falo em próximo período, não me refiro a um ano (ou uma fração dele). Estou falando de um período de tempo que não se sabe ao certo quanto vai durar.
Um outro slogan varejista ecoou na cabeça: “Compre! Compre! Compre!”. Não se sabe bem o que, para que ou quando.
O fato é que nenhum algoritmo tem a capacidade de prever o que nunca aconteceu, o que justifica um comportamento de mercado irreproduzível. Não existem informações do que pode ou não ser esperado dentro da cadeia de consumo para o próximo período.
Os planos das organizações
Empresas tradicionais já gerenciavam os seus planos:
- Negócios, forecast, cadeia de suprimentos, manufatura e entrega;
- Portfólio de produtos, lançamentos e ciclos de vida, de operação e de assistência;
- Prioridades em linha, tempos de setup e lotes econômicos.
Eram utilizadas rotinas estabelecidas de S&OP (Sales and Operations Planning) para médio e longo prazos e S&OE (Sales and Operations Execution) para o curtíssimo e curto prazos. Mas fica difícil garantir de forma segura e confiável o quê, quando e como determinada demanda vai entrar em linha.
Já não se garante o cumprimento (ou não) de um prazo acordado, como também não se consegue o comprometimento da cadeia de fornecedores com o atendimento do forecast. E, falando em forecast e a sua interminável e incansável revisão: quem assume toda essa flutuação? O mercado, com certeza, não!
De uma forma geral, o sentimento de incerteza invadiu cada ser humano economicamente ativo. E, enquanto alguns querem garantir a sua sobrevivência e de seus negócios, outros desejam ‘surfar a onda’.
Todos, pretendendo acertar, começaram a mirar em um alvo e a gerar previsões sem nenhum embasamento e com pouca responsabilidade. E o resultado? A geração de demandas com volumes e um senso de urgência nunca antes vistos.
Esse comportamento gerou um aumento da demanda – e consequente estresse – em toda a cadeia de suprimentos de materiais e serviços. Todos querem tudo e os que podem estão dispostos a inflar seus estoques a fim de não perder venda. O make to order virou um salve-se quem puder.
As consequências são imprevisíveis, assim como o tempo necessário para a estabilização das demandas do mercado também. Toda essa incerteza é definida por um conceito chamado de Efeito Chicote (ou Bullwhip Effect em inglês).
Entenda as consequências do Efeito Chicote
O Efeito Chicote sugere que o aumento repentino nas demandas gera ondas de impacto que atingem contínua e consecutivamente toda a cadeia. E isso, por sua vez, cria uma percepção de urgência em curtíssimo prazo e uma grande insegurança em relação aos níveis de atendimento a médio e longo prazos.
Toda essa variação entre a demanda e a procura, gerada por previsões imprevisíveis gera vazios (voids), tanto na cadeia de consumo quanto na cadeia de suprimentos. Isso distorce toda a percepção de realidade e cria um círculo vicioso entre as cadeias. Ou seja, todos tentam preencher os voids com outras oportunidades e demandas e o sistema acaba por colapsar.
Percebemos o colapso pelo aumento do volume aparente e a variação das demandas à medida que se avança na cadeia de consumo: do consumidor aos setores primário e secundário da indústria.
O atraso no fluxo de informação e de entregas gera insegurança e aumenta a incerteza das previsões de demanda, gerando, assim, novas ondas de previsões e de incertezas, nutrindo o círculo vicioso de insegurança, incerteza e estoque.
O Movimento Oscilatório Amortecido
O Movimento Oscilatório Amortecido é um movimento sujeito a uma força restauradora ao seu ponto de equilíbrio. Desta forma e neste momento, o comportamento do mercado é oscilatório e os setores primário e secundário atuam na cadeia com esforços que busquem a estabilização da demanda e da capacidade produtiva.
Resumindo: forçamos o sistema para que ele retorne a um ponto de equilíbrio e que apresente variações conhecidas, repetitivas e reproduzíveis. Enfim, queremos que o sistema volte a apresentar um padrão de comportamento que possa ser explicado e previsto por um algoritmo.
Veja na imagem abaixo a ilustração do conceito apresentado acima:
O problema do Movimento Oscilatório Amortecido, quando aplicado às possíveis realidades de demanda e capacidade do mercado, é que ninguém sabe quanta força empregar, quando empregar, quanto se está disponível para investir ou perder. E o pior: quanto tempo os mercados levarão para estabilizar as demandas e as capacidades em todos os níveis da cadeia, seja ela de produção ou de prestação de serviços.
Neste momento, portanto, há a preocupação de criar modelos matemáticos e algoritmos que demonstrem:
- O mínimo de assertividade;
- Capacidade de reduzir gastos e investimentos desnecessários;
- Dar estabilidade e segurança aos colaboradores;
- Ter visibilidade de médio prazo;
- Dar estabilidade aos processos produtivos e de prestação de serviços.
A teoria do Efeito Dumping
Agora, conhecendo os dois fenômenos descritos acima, programadores, planejadores e futurologistas em geral devem ter uma preocupação especial com outra teoria: a do Efeito Dumping, também conhecida como Movimento Oscilatório Super Amortecido. Preocupação especial porque ela se propõe, matematicamente, a reduzir os ciclos, a amplitude, a frequência e, principalmente, o tempo de variação para estabilização.
Esse fenômeno é muito estudado, especialmente, pela indústria de amortecedores automotivos. O objetivo, aliás, é o mesmo descrito acima para os mercados: gerar estabilidade em um curto intervalo de tempo e com a mínima variação possível.
O Efeito Dumping faz com que haja uma queda drástica, rápida, gradual e em um intervalo de tempo reduzido da amplitude da onda. As consequências são que esse movimento oscilatório tende ao repouso, à normalidade ou uma faixa conhecida de variação.
O Movimento Oscilatório Amortecido e o Efeito Dumping
Veja na ilustração abaixo a comparação entre o Movimento Oscilatório Amortecido e o Efeito Dumping:
Agora, qual a relação entre o Efeito Chicote e o Efeito Dumping ou do Efeito Chicote com o Movimento Oscilatório Amortecido? Como eles podem auxiliar o mercado a gerar forças que tragam as demandas e as capacidades para níveis de variação aceitáveis?
E de que maneira esse movimento pode ser realizado em um espaço de tempo reduzido e oferecendo um razoável nível de confiabilidade? Deixando claro que o nível de confiança aumentado é igual à aproximação das faixas de amplitude da variação.
Conhecendo a forma como o mercado se comporta e identificando que os aumentos de demanda não são sustentáveis ao longo prazo, as empresas precisam organizar-se no sentido de analisar quanta força será necessário aplicar e em que ponto da cadeia. Isso fará com que o Efeito Chicote tenha não apenas o seu impacto reduzido, como também se conquiste novamente um horizonte previsível e com níveis de variação aceitáveis, confiáveis e com baixo impacto aos negócios.
A conceituação matemática, transcrição dos códigos de programação e os testes de validação estatística de hipóteses são tarefas a serem realizadas pela equipe de Desenvolvimento.
Porém, é preciso sim saber que estamos em um momento difícil, que não temos segurança e nem visibilidade de normalização. Podemos perder vendas, inchar os estoques, “quebrar” fornecedores e parceiros. Por isso, é necessário saber que temos responsabilidades mas, também, ter consciência que existem modelos matemáticos capazes de ajudar a passar por essa crise fortalecidos.
E você, o que achou do nosso conteúdo sobre a relação entre Efeito Chicote e Efeito Dumping? Quer continuar aprendendo sobre diferentes aspectos dos processos logísticos? Então não deixe de ler o post “Saiba como tornar os processos logísticos mais assertivos e estratégicos”.