Entregar um diferencial competitivo que satisfaça o consumidor exigente é, hoje, um dos maiores desafios empresariais. Só vender um produto que atende suas necessidades não é suficiente para retê-lo na base. Toda a experiência que ele tem com a empresa, desde o primeiro contato até o pós-vendas, faz diferença.
A cadeia de valor é um conceito criado por Michael Porter, professor e teórico de negócios da Harvard Business School, que visa ajudar gestores a avaliarem os processos operacionais minuciosamente, a fim de identificarem pontos de melhorias, diferenciais competitivos e formas de entregar mais valor em cada uma das etapas.
A sua indústria possui uma cadeia de valor para maximizar o processo produtivo, garantir entregas rápidas e aumentar a satisfação do consumidor?
Veja no artigo tudo que é preciso saber sobre essa incrível metodologia e como aplicá-la na sua indústria!
O que é cadeia de valor?
A cadeia de valor é um conceito que foi introduzido pelo professor Michael Porter em 1985 ao estudar o longo processo de conceção e fabricação de produtos. Envolve um conjunto de atividades específicas para organizar todos os processos de produção da empresa e entregar mais valor e qualidade ao cliente.
Sabe-se que na indústria, o produto precisa passar por uma série de etapas de fabricação antes de chegar até o consumidor. Mas só entregar a mercadoria pronta não é o que fará ele se tornar verdadeiramente fiel e defensor de uma marca.
A empresa precisa controlar absolutamente tudo que envolve a sua cadeia logística para identificar a melhor forma de gerar valor, e convencer o cliente que o produto que chegou até suas mãos é, de fato, o melhor produto. E esse trabalho inicia com a seleção de bons fornecedores e aquisição de materiais.
Para que serve a cadeia de valor?
A finalidade da cadeia de valor é garantir a entrega de um produto e serviço premium ao cliente. Mas para que essa meta seja atingida, existe uma série de outros objetivos “secundários” que funcionam como pilares de sustentação para o objetivo central. São eles:
Reestruturar processos que não estejam gerando valor ao cliente
Usa-se o método para identificar todas as operações que não estão agregando real valor à cadeia de produção. Após essa identificação, os processos passam por uma reestruturação para que os mesmos acompanhem as novas prioridades da empresa e contribuam significativamente para a geração de valor.
Potencializar processos responsáveis pela geração de valor
A metodologia também contribui para potencializar processos. A empresa consegue identificar quais das operações já estão dando certo e geram um valor significativo, e em cima dessa informação, passa a atuar de forma mais estratégica para melhorar ainda mais o desempenho e a performance dessas etapas na cadeia.
Auxiliar no planejamento estratégico
O método também tem a proposta de auxiliar no planejamento estratégico da empresa, garantindo mais visibilidade para os gestores definirem estratégias, medidas e ações práticas que realmente agregam valor e otimizam toda a sua cadeia de produção e logística.
Proporcionar conhecimento sobre a vantagem competitiva
Por meio da metodologia, pode-se ainda identificar os pontos mais fortes dos processos, e esse conhecimento abre uma vantagem bastante competitiva em relação aos concorrentes, uma vez que é possível usar os diferenciais para sobressair no mercado e aumentar a retenção e fidelização de compradores.
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Quais as etapas da cadeia de valor?
As etapas de cadeia de valor são divididas em duas categorias: processos primários, relacionados à produção e entrega do produto, e processos de apoio, relacionados ao suporte e à infraestrutura para o bom funcionamento da empresa.
Abaixo explicamos mais detalhes sobre cada uma dessas categorias.
Processos primários
Os processos primários são compostos por atividades diretamente relacionadas à fabricação e entrega do produto pronto. De acordo com Porter, estão divididos em cinco subgrupos: logística de entrada, operações, logística de saída, marketing e vendas, e serviços.
1- Logística de entrada
A logística de entrega consiste em um conjunto de atividades que envolvem o recebimento, armazenamento e controle de materiais. Aqui entram funções, como:
- Elaboração do planejamento de compras;
- Recebimento de matéria-prima;
- Conferência de itens;
- Armazenagem;
- Gestão de estoque e fornecedores.
Essa é uma etapa muito importante para a geração de valor, pois além de melhorar o relacionamento com os fornecedores, ajuda a empresa a assegurar a qualidade na compra de componentes e insumos necessários para a fabricação de produtos.
2- Operações
A etapa de operações está relacionada às atividades que envolvem o chão de fábrica. Ou seja, tarefas que consistem em transformar matérias-primas em produtos acabados. Aqui temos funções, como:
- Planejamento de produção;
- Preparação de máquinas e equipamentos;
- Montagem;
- Embalagem;
- Fabricação dos itens;
- Manutenção de ativos;
- Testes de qualidade;
- Controle de estoque.
Essa etapa contribui muito para a geração de valor do ambiente de trabalho, para a performance dos trabalhadores e para a qualidade do produto pronto que será entregue ao cliente.
3- Logística de saída
Já a logística de saída concentra as atividades nas mercadorias que estão deixando o armazém da empresa para serem direcionadas ao cliente. Aqui entram processos, como:
- Gestão de estoques;
- Preparação de pedidos;
- Controle de transportes;
- Distribuição de produto;
- Rastreabilidade.
Assim como as etapas de logística de entrada e de operações, a logística de saída também é importante para a geração de valor. Mas, nesse caso, serve para garantir a realização correta dos transportes e satisfazer às expectativas do cliente quanto aos prazos de entrega.
4- Marketing e vendas
A etapa de marketing e vendas consiste na promoção e comercialização dos produtos. Aqui entram atividades, como:
- Pesquisa de mercado;
- Segmentação de clientes;
- Posicionamento da marca;
- Estratégias de atração, retenção e fidelização;
- Fechamento de vendas;
- Pós-vendas.
Essa etapa é muito importante para entender o que o cliente quer de fato, como a empresa pode ajudar e qual é a melhor forma de fazer isso. Assim, pode-se dizer que marketing e vendas servem para gerar mais valor no relacionamento com o público, os vendedores e o mercado em geral.
5- Serviços
Já os serviços envolvem as atividades que a empresa executa em relação à manutenção e o suporte aos clientes. Aqui entram tarefas, como:
- Atendimento ao cliente;
- Suporte técnico;
- Treinamento comercial.
O objetivo dessa etapa é agregar valor na experiência do cliente após a aquisição do produto, a fim de que o mesmo fidelize, indique a marca e retorne a fazer novas compras.
Processos de apoio
Os processos de apoio são as atividades complementares aos processos primários. Contribuem para manter o bom funcionamento da empresa e garantir a execução correta dos serviços. Estão divididos em quatro subgrupos: infraestrutura, gestão de recursos humanos, desenvolvimento tecnológico e aquisição/compras.
1- Infraestrutura
A infraestrutura trata de todos os componentes necessários para a empresa cumprir suas obrigações e realizar as atividades perfeitamente. Aqui entram recursos, como:
- Equipamentos;
- Maquinário;
- Sistemas de TI;
- Instalações;
- Gestão de estoque;
- Veículos para transporte;
- Entre outros.
É um grupo muito importante para a geração de valor, uma vez que suporta todas as operações e processos necessários para a empresa entregar um produto premium ao cliente e garantir sua total satisfação.
2- Gestão de Recursos Humanos
A gestão de RH está relacionada à atração, ao desenvolvimento, à motivação e à retenção de talentos. As pessoas desempenham um papel de destaque na cadeia de valor, pois são responsáveis por prestar os serviços aos clientes, executar as tarefas e garantir o atingimento dos objetivos.
Aqui entram as seguintes atividades:
- Recrutamento e seleção;
- Treinamentos;
- Avaliação de desempenho;
- Remuneração e benefícios;
- Gestão de conflitos e de carreira;
- Gestão de cultura organizacional;
- Conformidade regulatória.
3- Desenvolvimento tecnológico
Já o desenvolvimento tecnológico está associado aos investimentos que a empresa deve fazer para modernizar seus processos internos, melhorar a qualidade dos produtos e serviços e aprimorar a experiência do cliente.
Aqui entram medidas, como:
- Automação;
- Análise de dados;
- Integração de sistemas;
- Inovação de produtos e serviços;
- Melhoria na experiência do consumidor.
O grupo de desenvolvimento tecnológico contribui para geração de valor em grande escala porque os investimentos em tecnologia proporcionam ganhos mais significativos em produtividade, alcance e reconhecimento.
4- Aquisição/compras
Essa etapa contempla os serviços de aquisição de bens e serviços necessários para a produção e demais processos ligados à entrega dos produtos. Aqui temos como exemplos as seguintes atividades:
- Identificação de fornecedores;
- Negociação de preços;
- Controle de fornecedores;
- Gestão de estoque e riscos.
Essa etapa da cadeia contribui para a geração de valor com fornecedores, além de impactar significativamente a eficiência operacional e a rentabilidade da empresa.
Margem de lucro
A margem de lucro é a diferença entre o valor real – criado pela cadeia de valor -, e o custo que a empresa teve para a geração desse valor.
Margem de lucro = valor criado pela cadeia de valor – custo para geração desse valor |
Segundo Porter, as empresas podem aumentar a sua margem de lucro ao analisar e aplicar o método de duas formas: primeiro, reduzindo os custos de produção e simplificando seus processos produtivos; ou, cobrando um preço mais elevado pela entrega de produtos e serviços premium.
Independentemente da opção escolhida, é importante que a empresa tenha como objetivo garantir a qualidade de todos os produtos e serviços, e a total e completa satisfação do cliente.
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Qual é a diferença entre cadeia de valor e mapeamento de processos?
Quando se fala em melhorar as operações na indústria, as pessoas costumam assimilar a cadeia de valor ao mapeamento de processos. No entanto, ambas as ferramentas são distintas e possuem propostas totalmente diferentes.
A cadeia de valor é uma metodologia que permite analisar as atividades da empresa, a fim de identificar a forma com que elas agregam real valor aos produtos e serviços. Essa análise, mais estratégica, contribui para que os processos ineficientes para a geração de valor possam ser eliminados ou reduzidos.
O mapeamento de processos, por outro lado, é uma ferramenta mais tática, sendo usada para listar e descrever os processos internos. Ou seja, o foco é apenas compreender como eles funcionam.
O mapeamento de processos pode contribuir para a cadeia de valor como uma espécie de ferramenta paralela; uma aliada para simplificar o processo de análise sobre todas as etapas e operações da indústria.
Por que montar uma cadeia de valor para a empresa?
Processos que não agregam valor aos produtos e serviços tendem a gerar custos desnecessários para a indústria. Isso reflete no preço final dos produtos, que pode se tornar muito elevado e nada atrativo para o consumidor.
Para que a empresa consiga entregar um produto de qualidade a um preço competitivo, precisa saber quais etapas da cadeia realmente agregam. Não só isso, eliminar as operações que não contribuem para a geração de valor de um produto e serviço de excelência.
A única forma da empresa alcançar esse objetivo – identificar as etapas que geram valor real – é elaborando a sua própria cadeia de valor. Só assim poderá descobrir seus pontos fortes, potencializá-los e construir estratégias inteligentes em cima desses diferenciais.
Como fazer uma cadeia de valor?
Montar uma cadeia de valor é um processo complexo porque vai exigir uma série de responsabilidades do gestor. Será preciso identificar as atividades que agregam e não agregam nos processos de produção e entrega, bem como construir conexões entre essas etapas, entre outras tarefas importantes.
Abaixo, separamos em tópicos para facilitar o entendimento:
1- Faça os desdobramentos das atividades
A construção da cadeia de valor começa pelo desdobramento das atividades. O profissional responsável pela construção da cadeia precisa identificar quais são os processos primários e os processos de apoio.
Na hora que for fazer a separação das atividades primárias, é importante que o gestor se atente ao fato de as categorias serem divididas em:
- Atividades diretas: responsáveis por criar valor próprio;
- Atividades indiretas: contribuem para o funcionamento das atividades diretas;
- Atividades de valor: asseguram a qualidade das atividades diretas e indiretas.
2- Analise valor e custos
A segunda etapa consiste em identificar quais tarefas geram um impacto significativo na geração de valor e quais se mostram insignificantes para essa proposta. Feito isso, será necessário também levantar os custos que a empresa têm para gerar valor em cada uma dessas etapas.
3- Verifique as conexões
Após analisar valor e custos, o gestor terá que validar as conexões entre os processos para garantir que, ao eliminar alguma das tarefas que não agregam valor, as demais operações não sejam impactadas negativamente.
É fundamental que haja conexão entre as atividades, do contrário as funções sinalizadas como os pontos fortes da empresa podem deixar de proporcionar valor à produção e, devido a isso, todos os serviços e produtos entregues podem perder qualidade.
4- Procure oportunidades de melhoria e geração de valor
Por último, será preciso que o profissional analise todas as informações levantadas na estruturação da cadeia para procurar oportunidades de melhoria e geração de valor.
Identificou que um processo tem potencial, mas está carecendo de algum recurso importante? Faça o levantamento de tudo que será necessário para alimentar esse ponto forte e torná-lo relevante para gerar ainda mais valor.
Conclusão
Entregar um diferencial competitivo não se trata apenas de oferecer produtos e serviços básicos ao cliente. É tornar todos os processos de produção e entrega favoráveis para o consumidor e para a indústria.
A cadeia de valor é uma excelente ferramenta para garantir um verdadeiro diferencial. Por meio dela, a empresa é capaz de identificar seus pontos fortes e aprimorá-los, eliminar as etapas que não agregam e identificar melhorias que podem tornar o produto e serviço mais premium.
Montar uma cadeia de valor é complexo? Sim! Existe que o profissional separe as atividades primárias das atividades de apoio, analise minuciosamente valor e custos, verifique as conexões e procure oportunidades de melhoria.
No entanto, os ganhos obtidos com o trabalho valem muito a pena. Afinal, a cadeia torna os processos de produção e entrega muito mais organizados e verdadeiros potencializadores para geração de valor ao cliente e empresa. Gostou do conteúdo? Então leia também “O que é BPMS e como ele ajuda na gestão de processos da sua empresa!”